Martha H T de SouzaEmpresária rural
Eu não sei vocês, mas além do frio que já está se instalando nos pagos, deixando os dias descoloridos e trazendo desconforto a milhares de pessoas, principalmente as que vivem em situação de miséria, estou sentindo um clima tenso no ar. Em Santa Maria, do mês de janeiro até o momento, já foram registrados 33 assassinatos. Ficamos chocados ao ouvir a notícia de que, recentemente, um jovem levou vários tiros em um bar. O motivo? Dor de cotovelo. Em abril, outro jovem, também motivado por ciúmes, interrompia os sonhos da Luanne Garcez da Silva. Aliás, muitas mulheres morrem no Brasil por dizerem “não” aos seus ex ou atuais companheiros. Quando os homens vão aprender a lidar com sintomas de rejeição? Meninos são estimulados, desde cedo, a desempenhar papel de poder. A cultura machista faz com que eles acreditem que são donos de todas as decisões. Esse é um dos fatores que dificultam receber uma resposta negativa. Para todo o lado, esse incentivo está presente.
Se prestarmos um mínimo de atenção na letra de algumas músicas “fofas”, fica fácil entender esse descompasso entre amor e possessão. Talvez até você já tenha cantarolado, ou esboçado um sorriso, quando o rádio toca “meu orgulho caiu quando subiu o álcool, aí deu ruim pra mim. E pra piorar, tá tocando um modão de arrastar o chifre no asfalto”. Segundo o dicionário, orgulho significa sentimento de prazer ou satisfação que uma pessoa sente em relação a algo que ela própria ou alguém a ela relacionado realiza bem. Porém, também significa atitude arrogante que faz com que a pessoa se sinta melhor ou mais importante que outra. Portanto, voltamos aos tons tristes do machismo, enraizado na política, na economia, nas religiões, na mídia, na família.
Não bastassem os crimes abomináveis citados acima, denúncias de homofobia e racismo pipocaram nas dependências da Universidade Federal de Santa Maria, um lugar que deveria ser de respeito a todas as diferenças. E pior, a exteriorização desses pensamentos recebeu alguns apoiadores nas redes sociais. Mais danoso ainda é não ficarmos surpresos com essas declarações. Quando lideranças do país estimulam o uso deliberado de armas e proferem discursos que sequer disfarçam posições monstruosas, é de se imaginar que alguns, lamentavelmente, identifiquem-se com a barbárie.
O que está acontecendo com a humanidade? Discursos de ódio se espalham e há quem defenda que se trata de liberdade de expressão. Estamos fartos desses tempos de intolerância. Queremos viver em paz, com menos arrogância e mais solidariedade. Não apenas no discurso, mas na prática.
Meninos, podem ter certeza que, para nossa sociedade melhorar, muito depende das decisões que vocês tomarem como homens. Conformem-se e resignem-se com os finais: seja de um relacionamento, de um governo ou de um emprego. Recomecem, sem ferir outras pessoas. Queremos um mundo policromático, respeitoso, inclusivo. Cinza, só aceitamos os dias de inverno, lendo um bom livro, batendo um bom papo e pensando em como ajudar aqueles que não têm ao menos uma lenha para queimar.